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Projeto: Podcast Torpor

Ano: 2024

 

Projeto de identidade visual e ilustração para o Podcast Torpor, lançado em 2024. Torpor é uma série jornalística que investiga a explosão do consumo de opioides sob as perspectivas da ciência e do Brasil.

O objetivo do projeto era representar a dependência em opioides sem recorrer a uma estética excessivamente sombria ou psicodélica. Para expressar a sensação de torpor e a progressiva redução da sensibilidade e do movimento, a tipografia foi projetada para se tornar gradualmente mais “pesada” a cada letra. Esse efeito foi obtido pelo aumento progressivo do peso da fonte, que começa na versão Thin e evolui até a Heavy, além da modificação manual da tipografia no eixo X, ampliando o espaço ocupado pelos caracteres. O espaçamento entre as letras também foi ajustado para reforçar a percepção de gradação visual.

 

Nesta ilustração, busquei representar o conceito de dependência, destacando como a dor, diferentemente das drogas mais comuns no Brasil, pode ser um fator determinante para o vício em opioides. Em vez de retratar a dor de forma sombria, com pessoas sofrendo ou hospitalizadas, optei por uma abordagem mais simbólica. A estátua fragmentada e com rachaduras no totem sugere a paralisia causada pela dor ou pela ineficácia dos tratamentos convencionais. O vermelho aparece apenas nas plantas sobre a estátua, remetendo aos pontos de dor, como nas ilustrações anatômicas do sistema nervoso. Os galhos entrelaçando-se à estátua reforçam a conexão entre a dor e a prescrição de opioides. O bulbo da papoula cortado simboliza o alívio proporcionado pelos opioides, representando um ciclo de dor e tratamento.

Embora todas as ilustrações compartilhem um mesmo universo visual, esta contrasta com a primeira ao transmitir uma perspectiva mais positiva. Como o episódio aborda o uso controlado de opioides para melhorar a qualidade de vida, desenvolvi a ideia de um portal que conduz a um ambiente mais acolhedor. A paleta de cores inclui mais tons de vermelho e amarelo, flores grandes e luz quente, reduzindo o uso de azul, bulbos e raízes presentes na primeira ilustração.

O portal é um símbolo universal de esperança, novas perspectivas e recomeços. Para pacientes com dor crônica, os opioides podem representar a esperança de uma vida melhor. Simultaneamente, portões também remetem ao controle de acesso e restrição, alinhando-se à discussão do episódio sobre a prescrição segura e regulada desses medicamentos.

Esta ilustração aborda a perspectiva histórica do uso do ópio, desde a Antiguidade até os conflitos motivados por ele. Para representar esse contexto, retratei uma cena de guerra inspirada em pinturas e gravuras das Guerras do Ópio. Elementos como cavalos, lanças e capacetes adornados com penas remetem às batalhas do passado. Também incluí um cachimbo tradicional na base da imagem, referenciando o cultivo e o consumo do ópio ao longo da história.

A papoula, elemento de ligação entre as ilustrações, aparece em diferentes estágios de amadurecimento ao longo dos episódios. Para o episódio 4, que trata do Fentanil e sua disseminação como droga recreativa, as cápsulas da papoula foram representadas com cortes, liberando gotas de ópio. Essas gotas se espalham pelo solo, alcançando as ruas de uma cidade ao fundo, simbolizando a expansão da droga para o consumo ilegal.

O episódio analisa a vulnerabilidade do Brasil a uma possível epidemia de opioides, comparando-a com a crise nos EUA. A ilustração de um mapa do Brasil com sementes caindo do hemisfério norte simboliza essa influência externa. Apenas uma papoula floresceu, sugerindo incerteza: a epidemia pode não se desenvolver ou estar em estágio inicial. A flor frágil, com uma pétala caindo, reflete o consumo ainda limitado no Brasil em relação aos EUA.